terça-feira, 27 de março de 2018





O QUE DIZER DA PSICANÁLISE - Parte 3


A Psicanálise evidencia que a maior parte dos nossos problemas se originam na infância, na relação de dependência radical com o Outro. Dependemos da voz e do olhar do Outro para a constituição de nossa própria imagem, da nossa subjetividade e também para a estruturação da nossa sexualidade. E nesse sentido, foi a partir de Freud, pode-se dizer, que passamos a saber que a sexualidade humana não está vinculada estritamente ao que é da ordem dos instintos, mas das pulsões. É essa a ousada descoberta de Freud no que confere a sexualidade do humano, inicialmente relatada em seu livro Os Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, de 1905. Apesar dessa informaçāo já ser conhecida por alguns, foi Freud que de maneira quase heroíca para a sua época, tendo como referência seus estudos e observações clínicas, afirmou que, diferente dos animais a estruturação da sexualidade humana era de uma outra ordem. Se por um lado os animais portam um comportamento sexual hereditariamente fixado, no qual nāo é necessário construir-se nenhuma orientação quanto ao sexo e, que limita-se somente à reprodução, por outro lado, o chamado "ser humano" depende radicalmente de um outro humano para estruturar a sua sexualidade, e essa "estruturaçāo" vai se edificando a partir desses contatos com o outro que inicialmente lhe acolhe e lhe ampara, onde dessa experiência, ficarāo cunhadas de alguma forma, na pele, no corpo as primeiras experiências de prazer/desprazer e satisfação/insatisfação que contribuirāo posteriormente para a erogenizaçāo e base da sexualidade do ser falante. É nessa direção que podemos dizer que a sexualidade é pulsional, uma vez que para Freud a pulsão tem a ver com essas marcas psíquicas iniciais que buscamos reencontrar e que de alguma maneira foram demarcadas em nosso corpo. Freud vai dizer que "a pulsão é o representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente". São esses "registros" essas "marcas" que estão por trás do desejo humano e que movimenta o sujeito à uma busca de satisfação. Para o bebê humano, não lhe resta outra alternativa a não ser essa da submissão a esse outro que lhe fará acolhimento e a mais pura sujeiçāo ao seu desejo.


E os problemas que se originam na mais tenra infância, como tratá-los?

Em seu texto de 1914, cujo título é Recordar, Repetir e Elaborar, Freud observa que a cura em um processo de psicanálise se dá por meio da recordação, nāo no sentido de voltarmos ao passado e procurarmos em meio a um labirinto a peça que faltava para montarmos no tempo presente aquilo que poderíamos chamar do quebra cabeça da nossa história. A recordação se faz importante para que o sujeito em um processo de análise, pela via transferencial, venha se permitir a se encontrar repetidas e repetidas vezes com os pontos nebulosos e intraduzíveis de sua própria história, para que no encontro com essa hiância, com essas fendas, ele possa ter a possibilidade de inventar, ele próprio, aquilo que seria da ordem de um reparo diante de sua dor de existir e de seu desamparo!


Antonio Roberto Silva
Psicanalista
Adjunto na Maiêutica Florianópolis – Instituição Psicanalítica
Especialista em projetos direcionados a pesquisas na área de saúde mental.
antonio.psicanalise@gmail.com
(48)999195607