quarta-feira, 13 de março de 2019


"A Psicanálise não é apenas uma pratica de eliminação dos sintomas," mas...



Atendimento Psicológico em Consultório de Psicanálise através de PROJETO SOCIAL em dias e horários pré-determinados para os municípios  de Palhoça, São José e Florianópolis. O Projeto Social Polis Care é direcionado para estudantes e pessoas que querem realizar o atendimento psicanalítico mas que se sentem impedidas devido à dificuldades em relação a sua condição financeira. O Projeto procura compatibilizar o valor das sessões ao valor da renda de cada um e as vagas são limitadas.  Para atendimento pelo Projeto é necessário primeiramente agendar uma entrevista/triagem para posteriormente dar início ao atendimento em dias e horários pré-definidos.
Os interessados devem entrar em contato pelo WhatsApp: 99603-8856.

terça-feira, 12 de março de 2019



" O viajante surpreendido pela noite pode cantar alto no escuro para negar seus próprios temores; mas apesar de tudo isto, não enxergará mais que um palmo adiante do nariz" (In Capítulo II, do livro Inibição Sintoma e Angústia, de Sigmund Freud).

Antonio Roberto/Escuta Analítica
(48) 99919-5607

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019


O QUE DIZER DA PSICANÁLISE - Parte 4

(O olhar para mim mesmo)


É só olhar a sua volta e não será difícil perceber entre nós, os humanos, uma recorrente presença de um comportamento narcisista na contemporaneidade. Nāo que o narcisismo seja algo novo no nosso meio mas, o que nos indaga em relação a esta questão talvez poderia ser expressada na seguinte pergunta: Em relação ao olhar voltado para nós mesmos, estaríamos vivendo na atualidade algo da ordem de um excesso? As chamadas "selfies" se alastram pelas redes sociais com uma velocidade descomunal, registrando em alguns casos, 24 horas do dia de uma mesma pessoa e ainda por cima, tudo isso se mostra imbuído de uma felicidade inigualável, conquistas impossíveis, receitas infalíveis e muitas vezes aliados a um sentimento de onipotência, onde não há lugar para tristezas, frustrações ou até mesmo um luto de um ente querido. Não que não seja prazeroso expressar os sentimentos que nos enchem de alegria, os desafios que nos tornam mais resilientes e a realização de desejos e objetivos. Mas não estaríamos nós, vivenciando um "tempo" de um narcisismo exacerbado onde só enxergamos o próprio umbigo e, condenados tal qual o Narciso, o personagem do mito grego, a perecer diante da própria imagem?

A palavra Narciso que em grego é Narkissos, remete àquilo que vem de narkes, que significa entorpecimento, torpor, inconsciência, faz referência a qualquer substância que altera os sentidos, produzindo narcose. A palavra Narciso também remete ao nome de uma flor bonita e solitária, que nasce nas beiras dos rios, cuja vida é bastante efêmera e estéril. Se pensarmos bem, não seria talvez esse efeito de entorpecimento mesmo, envolvendo beleza e culto a própria imagem denotando muitas vezes uma certa "alteração de sentidos" , o que muitas vezes presenciamos nas redes sociais?

Na Psicanálise, o narcisismo é um conceito utilizado por Freud a partir de 1910, recorrendo a metáfora do mito de Narciso. Ele vai destacar que o narcisismo enquanto essa experiência de investimento de libido no próprio eu, é uma fase intermediária do desenvolvimento humano que se dá entre a fase autoerótica e o amor objetal. O narcisismo enquanto fase intermediária é também um organizador das pulsões parciais. A relação do bebê humano é demasiadamente frágil com o mundo externo,com o mundo objetivo. Ainda sem coordenação motora, nos primeiros meses de vida, ele é dependente dos cuidados de um outro. Será a partir da identificação com uma imagem que o pequeno humano captará o mundo que o cerca. Experiência que resultará em uma espécie de matriz do eu, matriz essa que também possibilitará a forma fixa do eu ideal, sua imagem de referência de perfeição narcísica. Podemos dizer que no processo de formação do eu, o narcisismo seria uma etapa na qual o sujeito assume a imagem do seu próprio corpo como sendo sua, percebe a sua imagem e se identifica com ela: Eu sou essa imagem, esse sou eu! É um processo que remete ao reconhecimento do eu tendo como referência a imagem do corpo próprio investida pelo outro. Freud observa em seu texto Introdução ao Narcisimo, de 1914, que uma unidade comparada ao eu não existe desde o início, ou seja, esse eu no qual o sujeito se reconhece e que será a sede das identificações, não é inato, ele se origina através dessa nova ação psíquica, desse novo ato psíquico, o narcisismo:esse momento que está entre um momento primeiro, o auto erotismo em que as pulsões têm a sua livre satisfação e, um outro momento, o de amor objetal, um momento em que o sujeito pode amar e escolher o outro. Jacques Lacan, irá trabalhar essa questão em seu texto "O Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu" (o qual podemos abordar no meu próximo texto), em 3 tempos. Dessa fase, se assim podemos dizer, resultam o ideal de eu, que é a imagem que a gente se vê enquanto completo e também imagem que a gente persegue no sentido de alcançar esse ideal e o eu ideal, essa instância simbólica com a qual a gente se identifica para termos a possibilidade de reconhecer o nosso próprio desejo. Ou seja, ter um outro como referência para desejar aquilo que esse outro deseja. "Ser como o pai, para desejar alguém como a mãe, por exemplo.

É bem verdade que, como já observava Freud,o ser humano no percurso de sua vida não deixa de investir uma parte da sua libido no eu, mas na contemporaneidade, não estaríamos por demais colados a este ideal de eu, uma vez que nos mostramos, através das selfies e relatos nas redes sociais, tão bem acabados, felizes e perfeitos? Freud também defendia que de algum modo a cultura afeta o sofrimento do sujeito. Termino esse texto convidado a você, leitor, a uma reflexão: O que dessa negação da incompletude que nos habita expressada no mundo das selfies e de uma felicidade carregada na palma da mão, está nos trazendo de consequências e sofrimento na atualidade?



Antonio Roberto Silva
Psicanalista

Adjunto na Maiêutica Florianópolis – Instituição Psicanalítica
Psicanalista com formação permanente desde 1987
Pesquisador na área da Psicanálise e Saúde Mental
Pós-Graduado e Especialista em Gestão de Projetos
Profissional com Extensão Universitária em Psicologia da Personalidade e Psicopatologia Infantil e em
Psicopedagogia
Coordenador e Palestrante no Bemdizer Consultório e Espaço de Psicanálise
Autor e membro fundador do Projeto Social Polis Care com atendimentos em São José, Florianópolis e  Palhoça.
Autor da peça teatral "Boa Noite Meu Bem"

antonio.psicanalise@gmail.com
Telefone/Whatsapp :(48)999195607