quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

 
O QUE DIZER DA PSICANÁLISE? - Parte 1
A psicanálise, também conhecida como um método de investigação do inconsciente criado pelo neurologista Sigmund Freud é também chamada por muitos de “a teoria da alma” e está presente em nossos dias como uma eficiente alternativa para acolher e tratar através da clínica psicanalítica, o sofrimento humano nas suas mais variadas manifestações: fobias, ansiedade...e, pânico, angústia, conflitos, depressão entre outras manifestações psíquicas e patológicas refletidas no próprio corpo. Foi através da descoberta freudiana que passou-se comumente a falar de inconsciente e que se passou a ouvir também que "o eu não  é senhor da sua própria casa", já que a maior parte dos conteúdos inconscientes que regem as nossas vidas e ações, deles pouco se conhece.

O início da clínica freudiana foi marcado pelo trabalho realizado junto às histéricas naquela época e sabe-se que o próprio surgimento da psicanálise deve-se de alguma forma a elas. Os corpos das histéricas eram corpos que falavam: essa era a suposição de Freud diante das paralisias, anestesias e demais conversões histéricas, quadro clínico bastante discutido naquele período. Sim, esses corpos falavam, podiam de alguma forma serem lidos, decifrados, porém isso não se tornaria possível sem que a elas, essas pacientes, não lhes fosse dado a palavra. Freud teve referências importantes como Breuer e Charcot, mestres que inspiraram o seu percurso e nesse trajeto, destaca-se o experimento e o abandono da técnica hipnótica. A palavra do paciente (assim era chamado o analisante), dá origem a uma regra fundamental da Psicanálise, a associação livre, a qual não vamos detalhar nesse momento, mas já observando de saída que essa associação não é tão livre assim...pois bem, essa palavra inaugural que marca a entrada da Psicanálise é conhecida historicamente através do pedido de uma histérica no qual ela solicitava para que Freud, na posição de saber médico, calasse e a deixasse falar! Freud, em uma atitude de humildade e mesmo de sensibilidade diante do saber, cedeu a palavra a paciente e passou a identificar nas observações clínicas que o saber sobre aquelas manifestações histéricas não estavam exatamente do seu lado mas sim, do lado daqueles que estavam sofrendo. A partir daí na experiência freudiana se inverteu a relação entre médico e paciente, ou seja, uma suspensão do saber do lado do médico dando lugar a uma escuta e a fala da paciente e o início do método psicanalítico. Surgiram dessa forma o que chamamos hoje de analista e analisante. Em sua caminhada clínica, Freud perceberá adiante que o analisante sempre fala mais do que diz, ou seja, aquilo que aparece inicialmente como manifestações, corporais, expressões de sofrimento, na medida em que é falado, vai também sendo escutado por Freud não mais como a queixa ou indicações de possíveis patologias, mas como alguma coisa que não estava podendo ser dita, algo que vai sendo vinculado ao desejo e que de alguma maneira, estava apontando para uma outra cena, até então não revelada.

Mesmo tendo inicialmente a sua origem na clínica médica sabe-se que a psicanálise se funda justamente, quando Freud rompe com o discurso médico, dando lugar a palavra do paciente e a escuta do seu discurso e, passando a identificar nesse discurso a presença das formações do inconsciente que através das associações remetem a uma outro lugar até então desconhecida pelo próprio sujeito. Dentre as formações do inconsciente podemos citar os sonhos, os chistes, os atos falhos, os lapsos e o próprio sintoma.

A descoberta de Freud de uma outra cena vinculada a um desejo é também a descoberta de que esse desejo remetia a sexualidade, mas nesse sentido é importante ressaltar que para Freud a sexualidade é pulsional e esse conceito vai muito além daquilo que se pode compreender comumente, não sendo possível reduzi-la apenas a questão biológica, ao ato sexual em si. De maneira geral pode-se dizer que para a psicanálise a sexualidade é uma força, uma energia vital vinculada ao princípio do prazer, a experiência de satisfação e que está presente no nosso desenvolvimento desde a mais tenra infância, mas esta é uma questão que vamos aprofundar paralelamente ao próximos textos da série de textos “O que dizer da Psicanálise?”. Até lá!


Antonio Roberto Silva 
Psicanalista
Adjunto na Maiêutica Florianópolis – Instituição Psicanalítica
Especialista em projetos direcionados a pesquisas na área de saúde mental.
Membro fundador do C.E.P.P.P.

antonio.psicanalise@gmail.com 
(48)999195607

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